O jejum é uma prática ancestral, presente em inúmeras culturas, que vai muito além da simples abstenção de alimentos e comportamentos. Trata-se de uma imersão nas profundezas do ser, um processo que transcende o corpo e atinge o espírito.
Culturas e tradições religiosas, como o Ramadã no Islamismo, a Quaresma no Cristianismo e o Yom Kipur no Judaísmo, conferem ao jejum um papel simbólico e regenerador. Mas suas raízes ultrapassam o contexto religioso, revelando-se como uma oportunidade única de conexão com a Consciência Absoluta.
Aqui, refletiremos sobre a visão de Paramahansa Yogananda, que enxerga no jejum uma ferramenta para alcançar autonomia espiritual e autossuficiência energética.
A Purificação que Transcende o Corpo
Para Yogananda, o conceito de jejum vai além do físico, transformando-se em um instrumento de purificação profunda. Ele não se limita à limpeza corporal, mas engloba também o espírito, recordando-nos de nossa essência divina — uma centelha da Consciência Universal, como uma pequena chama em meio ao vasto plano físico. Tal qual o astronauta necessita de um traje especial para sobreviver no espaço, o espírito humano, ao manifestar-se nesta realidade densa, utiliza o corpo físico como veículo. Contudo, os estímulos sensoriais da vida diária frequentemente levam a consciência individual – o que chamamos de espírito – a identificar-se exclusivamente com o corpo, esquecendo-se de sua origem ilimitada, derivada da Consciência Absoluta.
Neste contexto, o jejum emerge como uma oportunidade de romper com a identificação exclusiva com o corpo e os desejos transitórios. Yogananda observa que o jejum liberta o espírito das amarras materiais, reeducando o corpo e a mente a dependerem menos dos prazeres sensoriais e das satisfações imediatas. Ao se libertar do impulso constante pela alimentação, o praticante começa a desenvolver uma vida mais independente, na qual não é mais dominado pela compulsão alimentar. Esta prática desperta um poder interior que fortalece o indivíduo, proporcionando-lhe uma existência autossuficiente, guiada pela consciência e não pela necessidade.
Sintonizando-se com a Energia Superior
Desvincular-se das demandas físicas por meio do jejum não é meramente um exercício de resistência; é um meio para elevar a mente a um estado de controle sobre o corpo. Quanto mais o espírito se distancia das influências físicas, mais ele se sintoniza com uma fonte de energia superior: a força vital. E essa energia, ao contrário do que geralmente se acredita, não depende de alimentos, mas provém de uma fonte divina, constante e acessível a todos.
Desse modo, o jejum funciona como uma ponte para acessar essa energia, revelando que a verdadeira sustentação da vida não nasce das substâncias materiais, mas dessa força cósmica que reside em cada ser.
Assim como um motor precisa de repouso e manutenção para funcionar corretamente, nosso corpo necessita de períodos de descanso e reabastecimento de sua energia vital.
Quando ignoramos a necessidade de autocuidado, o corpo, semelhante a um motor desgastado, perde eficiência ao longo do tempo. Esse desgaste não se limita ao corpo físico; afeta também o fluxo de força vital, especialmente quando somos capturados pelos prazeres sensoriais, como o paladar.
Nessa busca incessante por prazer, esquecemos a importância de preservar o autocontrole – a chave verdadeira para a liberdade. O jejum, neste sentido, é um descanso para os órgãos sobrecarregados, permitindo que a força vital flua sem as amarras impostas pela alimentação constante e promovendo um equilíbrio natural e regenerador.
Uma Nova Relação com a Alimentação
Ao reeducar a mente para depender menos de recursos externos, o jejum possibilita a descoberta de um poder interno regenerador, que nos conecta diretamente com a fonte divina. Essa percepção transforma nossa relação com a alimentação, revelando que a vida depende muito mais de uma energia superior do que dos nutrientes materiais. O jejum se transforma, então, em um processo que dissolve as ilusões impostas pela realidade física e desvela a essência espiritual do ser, ecoando o antigo ensinamento bíblico:
“Nem só de pão viverá o homem”.
A capacidade de domínio da mente sobre o corpo é latente em todos nós, embora poucos a explorem plenamente. Em uma de suas palestras, Yogananda ilustrou essa habilidade ao alterar voluntariamente sua temperatura corporal através da concentração e intenção, provando que o poder mental é superior a qualquer intervenção física.
Esse feito, embora impressionante, está ao alcance de todos que cultivam a autodisciplina e a conexão com o próprio poder interior.
Como Yogananda ensina, esse controle não é um privilégio reservado a poucos, mas uma habilidade que todos podem desenvolver por meio do crescimento espiritual, como exemplificado na prática científica do biofeedback.
O Jejum como Porta para a Conexão com a Consciência Absoluta
Além de seus benefícios para a saúde, o jejum é uma porta para a comunhão com o divino. Ele purifica o corpo e a mente, liberando-os da obsessão por prazeres materiais e abrindo espaço para a conexão espiritual. Com o tempo, o praticante percebe que a mente, quando treinada adequadamente, tem o poder de restaurar a saúde e o equilíbrio físico. Essa descoberta nos conduz a uma nova dimensão de existência, onde a mente tem o poder de nutrir e revitalizar o corpo, provando que o verdadeiro poder de cura reside em nossa consciência.
Na atualidade, muitos recorrem a medicamentos ao menor sinal de desconforto, na tentativa de aliviar sintomas que, muitas vezes, são reflexos de um desequilíbrio mais profundo.Contudo, essa dependência enfraquece a força mental e a capacidade inata de autorregulação.
Ao escolher o jejum, o indivíduo opta por transcender a materialidade, treinando a mente a confiar em seu próprio poder regenerador. Esse treinamento revela uma dimensão de força e cura que torna a pessoa progressivamente menos dependente de métodos convencionais e mais conectada a uma fonte de energia essencial e pura.
O Caminho da Autossuficiência Espiritual
Yogananda recomenda que iniciemos o jejum gradualmente, com jejuns semanais ou mensais de um dia, consumindo apenas sucos de frutas, permitindo que o corpo e a mente se acostumem ao estado de abstinência alimentar.
No início, o processo pode causar sensações de fraqueza e desconforto, mas, com o tempo, o praticante atinge um fluxo contínuo e genuíno de força vital, fortalecendo sua autonomia e independência em relação aos alimentos.
Essa jornada de autoconhecimento e transcendência torna o jejum um instrumento de libertação, permitindo ao ser humano perceber sua verdadeira essência – uma realidade que não depende dos recursos externos.
O jejum é um caminho para uma consciência elevada, onde o poder da mente se manifesta em feitos extraordinários, como a cura de doenças e a criação de abundância em nossa vida. É uma prática que dissolve as limitações impostas pela matéria e revela o potencial ilimitado da mente.
Conclusão: Uma Chave para a Liberdade Verdadeira
Ao final, o jejum se apresenta como uma chave para a verdadeira liberdade. Ele permite transcender as limitações do corpo e dos sentidos, proporcionando uma existência alinhada com a Mente Divina.
Não é apenas uma revelação teórica, mas uma experiência prática e concreta que transforma nossa visão de mundo e nos aproxima de uma vida de autossuficiência, paz e união com o sagrado.
Ao acolher o jejum como parte de nossa prática espiritual, abrimos caminho para uma realidade onde corpo, mente e espírito coexistem em perfeita harmonia, e a vida, então, assume um sentido renovado e iluminado.
Referência Bibliográfica:
YOGANANDA, Paramahansa. A Eterna Busca do Homem: Palestras e Ensaios Reunidos sobre a Realização de Deus na Vida Diária – Volume 1. Los Angeles: Self-Realization Fellowship, 1982.
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